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Mauro Senise conserva, no álbum 'Ilusão à toa', o encantamento juvenil de ser tocado pela obra de Johnny Alf

Mauro Senise conserva, no álbum 'Ilusão à toa', o encantamento juvenil de ser tocado pela obra de Johnny Alf

30/10/2020 - 09:00

Quando Mauro Senise leva literalmente na flauta o choro Seu Chopin, desculpe (Johnny Alf, 1964), em arranjo jazzístico criado pelo pianista Adriano Souza, é como se o saxofonista e flautista carioca estivesse adentrando novamente a porta da boate Le Bateau.



Foi nesse reduto do samba-jazz no bairro carioca de Copacabana que, em 1973, o então jovem iniciante Senise se deparou ao vivo com a modernidade perene da obra e do piano do compositor e músico conterrâneo Alfredo José da Silva (19 de maio de 1929 – 4 de março de 2010), sendo tocado pela música do gênio artisticamente conhecido como Johnny Alf.

A diferença é que, em março de 2019, quando gravou o álbum Ilusão à toa – Mauro Senise toca Johnny Alf, Senise já era músico tarimbado e conceituado na cena instrumental carioca.

Lançado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de outubro de 2020, em CD e em edição digital, o disco flagra Senise com maturidade para percorrer – e reinventar, com a liberdade dada aos músicos que falam a língua universal do jazz – os caminhos harmônicos desbravados nos anos 1950 por Alf, reconhecidamente um dos arquitetos da modernista construção da bossa nova.

Com capa que expõe aquarela de Ana Luisa Marinho e com texto (na edição em CD) em que Senise recorda o sopro de juventude ao ver e ouvir Alf no escurinho da boate Le Bateau, o álbum Ilusão à toa jamais tem nota jogada fora ao longo das 13 faixas.

O que é amar (1953), por exemplo, ultrapassa os nove minutos e justifica a duração na gravação arranjada pelo pianista Cristovão Bastos para o sopro do sax alto de Senise porque, além da técnica, existe na faixa – assim como na abordagem de Disa (Johnny Alf e Maurício Einhorn, 1964) – o que pode ser caracterizado como “alma” ou “sentimento”.



É dessa conexão entre técnica e emoção (depurada, pois o cancioneiro de Alf sempre podou excessos pela própria natureza cool) que se alimenta Senise quando sopra o sax alto, instrumento usado para evidenciar a leveza de Rapaz de bem (1955). E quando se utiliza do sax soprano para realçar a atmosfera da balada Olhos negros (1991) – primeira e única parceria de Alf com o letrista poeta Ronaldo Bastos – e para interpretar Sonhos e fantasias (1991).

Com arranjo e piano de Gilson Peranzzetta, também ouvido com a habitual precisão em Plenilúnio (1968), a balada Nós (1974) – evocativa de canções anteriores da faceta mais romântica da obra de Alf – tem a melodia iluminada pela flauta em sol de Senise, com espaço para recriações.

Mauro Senise jamais faz cover no álbum Ilusão à toa. O cancioneiro de Alf é filtrado pela estética de Senise, com reverência, mas sem devoção cega, ao compositor celebrado. O que justifica a ênfase na percussão tocada por Fábio Luna na gravação da música-título Ilusão à toa (1961), opção estilística que transpõe a balada para a atmosfera do samba-canção, sem sair do ambiente esfumaçado de uma boate.

O aconchego das boates sempre acomodou bem o cancioneiro de Johnny Alf, porque a obra do compositor pede sobretudo intimismo, mesmo quando cai no sambaião (como em Céu e mar, composição lançada em 1958 que exemplifica a moderna complexidade harmônica e melódica da obra de Alf) como no samba-choro, como na gravação de Podem falar (1953), faixa pontuada pelo vibrafone do arranjador Jota Moraes.

A emoção é depurada, como entendeu João Senise, solista convidado a dar voz a Eu e a brisa (1967), uma das canções mais sublimes e conhecidas de Alf.

No fim do disco, há a surpresa da aparição do próprio Johnny Alf, cuja voz é ouvida em registro de Melodia sentimental (Heitor Villa-Lobos, 1958) no qual Senise intervém virtualmente com o sopro da flauta do artista. O encontro virtual apresenta um Senise já maturado pela vida – de 70 anos completados em 18 de maio – ao desde sempre moderno Alf.

Contudo, é como se diante de tanta modernidade, reiterada no álbum Ilusão à toa, Mauro Senise conservasse aos 70 anos o mesmo encantamento juvenil do músico ainda inexperiente que foi tocado pela obra de Johnny Alf ao adentrar a boate carioca Le Bateau em 1973.

Fonte: G1 Música

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