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Álbum de Jorge Ben em 1971, 'Negro é lindo' se afina com 'black power' de 2021 ao fazer 50 anos

Álbum de Jorge Ben em 1971, 'Negro é lindo' se afina com 'black power' de 2021 ao fazer 50 anos

Foto: Wilney com arte de Aldo Luiz

Álbum de Jorge Ben em 1971, 'Negro é lindo' se afina com 'black power' de 2021 ao fazer 50 anos

18/01/2021 - 09:27

Oitavo álbum de estúdio de Jorge Ben Jor, lançado em novembro de 1971 pela gravadora Philips, Negro é lindo é fruto dos movimentos sociais que institucionalizaram o black power nos Estados Unidos ao longo dos anos 1960 e, por isso mesmo, o disco completa 50 anos em 2021 conectado e afinado com o grito pela reafirmação da importância de vidas negras que ecoa forte no mundo em tempos atuais.

Nos Estados Unidos, os movimentos sociais dos anos 1960 tiveram como trilha sonora sobretudo o soul e o funk que reverberaram no Brasil a partir do fim dos anos 1960, projetando artistas como Tim Maia (1942 – 1998) e Tony Tornado no início da década seguinte.

Ben, que já vinha pavimentando obra autoral desde 1962 com orgulho negro e boa dose de soul no toque do violão (mas sem se prender ao gênero norte-americano), explicitou o brado do movimento racial, em bom português, no titulo desde disco lançado no mesmo ano em que Elis Regina (1945 – 1982) popularizou o soul Black is beautiful (1971), marco da adesão dos irmãos compositores Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle ao movimento pela valorização do povo negro.

“Negro é lindo / Negro é amor / Negro é amigo”, reforçou Ben Jor em versos da letra da pacifista música-título Negro é lindo (Jorge Ben Jor, 1971), formatada no estúdio com cordas orquestradas pelo maestro Arthur Verocai – cordas também proeminentes também na faixa Porque é proibido pisar na grama (Jorge Ben Jor, 1971) e na regravação de Que maravilha (1969), parceria de Jorge Ben com Toquinho apresentada há então dois anos e revivida por Jorge no disco de 1971 em registro também pontuado pela leveza do toque de um piano.

Em que pesem as cordas, o motor do álbum Negro é lindo é o violão de Ben Jor. Com toque alquimista que sintetiza ritmos negros do Brasil e dos Estados Unidos, criados a partir de matrizes africanas, o violão do músico carioca é a veloz máquina de ritmo que eletriza Cassius Marcelo Clay (1971).

Outra parceria de Jorge com Toquinho, Cassius Marcelo Clay é tributo dos compositores ao engajado pugilista norte-americano Cassius Marcellus Clay Jr. (1942 – 2016), rebatizado como Muhammad Ali desde que se converteu ao islamismo com o incentivo de Malcom X (1925 – 1965), líder norte-americano do movimento negro nacionalista que mobilizou os Estados Unidos nos anos 1960.

A homenagem de Ben Jor a Cassius Clay mostra como o álbum Negro é lindo está impregnado do poder negro importado dos EUA, mas adaptado, inclusive musicalmente, à realidade brasileira. Tanto que o disco é o terceiro de trilogia fonográfica em que Ben Jor é acompanhado pelo balanço singular e brasileiríssimo do Trio Mocotó, grupo de samba-rock formado em 1968 por Fritz Escovão (cuíca), João Parahyba (bateria) e Nereu Gargalo (pandeiro).

É no balanço do Trio Mocotó que Ben Jor cai no suingue de Rita Jeep (Jorge Ben Jor, 1971), samba-rock que abre o disco com homenagem a Rita Lee (“Sujeita, você é um barato / Terrivelmente feminina / Com você, eu faço um trato / Um trato de comunhão de bem”), com quem Ben convivia nos estúdios paulistanos em que gravou o álbum, muitas vezes voltando para casa de carona no carro da cantora.

Com capa que expõe Jorge Ben em foto de Wilney, enquadrada na arte de Aldo Luiz, o álbum Negro é lindo foi produzido em estúdio sob direção do compositor e violonista Paulinho Tapajós (1945 – 2013), hábil ao organizar e harmonizar os elementos de disco composto e gravado com fidelidade ao universo de Jorge Ben.

Como o título já explicita, Negro é lindo é disco político, mas Jorge faz política com a sintaxe peculiar de cancioneiro pautado mais pelo ritmo do que pela letras, escritas a serviço desse ritmo. Celebrar o baterista do Trio Mocotó João Parahyba em Comanche (Jorge Ben Jor, 1971) e exaltar a beleza negra em Zula (Jorge Ben Jor, 1971) são armas usadas por Ben para entrar na luta e ostentar orgulho negro sem fazer letras explicitamente engajadas.

Coerente com a própria ideologia, o compositor celebra musas em Maria Domingas (Jorge Ben Jor, 1971) e Cigana (Jorge Ben Jor, 1971) – outra faixa em que foram destacadas as cordas orquestradas por Arthur Verocai.

No fecho do disco, Palomaris (Jorge Ben Jor, 1971) esboça certa sofrência indicada pelo tom melancólico dos versos, mas logo diluída pelo ritmo, motor da obra do artista.

Negro é lindo está longe de ser o álbum comercialmente mais bem-sucedido de Jorge Ben Jor. O disco tampouco rendeu um grande sucesso para o repertório do cantor e compositor.

Contudo, Negro é lindo conserva frescor musical e, por estar embebido em orgulho negro, faz 50 anos em 2021 com forte conexão com o atual e oportuno movimento que propaga a importância das vidas negras.

Fonte: G1 POP & ARTE

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