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Poder matriarcal de Alcione alavanca fluente documentário sobre a cantora

Poder matriarcal de Alcione alavanca fluente documentário sobre a cantora

23/09/2020 - 11:26

“Ela é a mãe de todos nós”, entrega Ivone Dias Nazaré, irmã de Alcione em um dos depoimentos fundamentais para o entendimento da personalidade da artista, assunto de O samba é primo do jazz, documentário sobre a excepcional cantora e instrumentista nascida em 21 de novembro de 1947 em São Luís (MA).

Exibido em primeira mão pelo Canal Brasil na noite de segunda-feira, 21 de setembro, dentro da programação da 48ª edição do Festival de Cinema de Gramado, o filme de Angela Zoé segue roteiro e formato convencionais, com mix de entrevistas inéditas e imagens de arquivo, mas consegue tirar boa parte da maquiagem que cobre – aos olhos do público – a figura já folclórica de Alcione, uma das maiores cantoras do Brasil e do mundo.

O poder matriarcal de Alcione é o motor que alavanca o fluente documentário sobre a artista carinhosamente chamada de Marrom no meio musical.

Ao evidenciar o caráter maternal da artista, extensivo aos amigos e à comunidade em que está sediada a escola de samba Mangueira, raiz carioca fincada no coração da cantora maranhense, a cineasta ajuda o espectador a entender as ações de Alcione enquanto, paralelamente, o filme expõe a musicalidade aguçada dessa artista que toca três instrumentos de sopro e que ficou assombrada ao ouvir pela primeira vez o canto de Ella Fitzgerald (1917 – 1996), diva norte-americana do jazz.

A propósito, o título O samba é primo do jazz vem da música Primo do jazz (Magnu Souza e Nei Lopes, 2004), apresentada pela cantora há 16 anos no álbum Faz uma loucura por mim (2004).

Se a musicalidade sempre esteve clara para quem escuta Alcione com ouvidos atentos, pela tarimba dessa cantora filha de pai músico e diplomada na noite carioca nos primeiros anos da década de 1970, a personalidade se desvenda ao longo dos fluentes 70 minutos do filme de Angela Zoé.

Fica clara a real fraternidade que rege a relação de Alcione com as irmãs Ivone, Maria Helena (também cantora e vocalista da banda de Alcione) e Solange Dias Nazareth (empresária). Nessa irmandade, Alcione – quarto dos nove filhos do casal João Carlos e Felipa – é a mãe que pode virar, não uma loba, mas uma leoa para defender as filhas-irmãs. “Mexeu com uma, mexeu com todas” é o lema da irmandade, explicitado no documentário.

Uma fala antiga da já falecida mãe da artista, Felipa, ajuda a decifrar a cantora quando caracteriza a “agressividade” desenvolvida pela filha após a fama como arma para se defender na machista indústria da música.

Mesmo contido diante das câmeras, o temperamento forte da Marrom é visto nas entrelinhas nas cenas que reproduzem takes de ensaio da cantora com a banda orquestrada pelo diretor musical Alexandre Menezes, único a ser entrevistado pela cineasta fora do círculo familiar da artista enfocada por Angela Zoé. E que família grande!

O filme revela que o pai da cantora, João Carlos Dias Nazareth, contabilizou 35 filhos dentro e fora do casamento, pelo temperamento caracterizado como “sociável” por Maria Helena Dias Nazaré. Alguns dos filhos extraconjugais foram criados por Felipa ao lado dos filhos do casal, em prova tanto da generosidade da matriarca da família quanto da estrutura patriarcal da sociedade brasileira.

Mesmo dando a necessária ênfase à organização familiar de Alcione para perfilar a artista fora dos holofotes, a música jamais sai do foco no roteiro de O samba é primo do jazz (O2 Play, Canal Brasil e Globo Filmes).



Cantora que entrou em cena pela primeira vez para substituir músico ausente na orquestra do pai, e desde então permaneceu em cena, Alcione reforça a influência que o Bumba-Meu-Boi e o Tambor de Crioula – manifestações folclórico-musicais do Maranhão – exerceu na musicalidade dessa cantora, transformada em sambista nos anos 1970 por Roberto Menescal, então no cargo de diretor artístico da gravadora Philips.

Em depoimento antigo, reproduzido no filme, Menescal explica que precisava ter uma sambista no elenco da companhia para fazer frente ao reinado de Beth Carvalho (1946 – 2019) e Clara Nunes (1942 – 1983) em gravadoras concorrentes. Indicada por Jair Rodrigues (1939 – 2014), Alcione ocupou essa vaga, mesmo sendo até então uma cantora que dava voz a todos os gêneros musicais.

Algumas imagens de arquivo – como o take em que Alcione e Caetano Veloso cantam samba de roda, diante de Dorival Caymmi (1914 – 2018), e como o registro de ensaio com Maria Bethânia no canto do Samba da benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes 1966) – valorizam o documentário de Angela Zoé.

A cineasta também enfoca a religiosidade da cantora e se vale eventualmente do silêncio – como o da cena que mostra Alcione quieta e contemplativa, no carro em movimento, enquanto se ouve o coro do público em A loba (Juninho Penalva e Paulinho Rezende, 2001) – para dizer mais com imagens do que com palavras.

Até porque nem tudo que é dito necessariamente pode corresponder à realidade dos fatos. A alardeada total insubmissão de Alcione às vontades de executivos fonográficos, por exemplo, jamais encontra eco em quem conhece os meandros da indústria da música.

Dentro da intimidade consentida, Angela Zoé consegue moldar retrato convincente e até certo ponto surpreendente da personalidade agregadora de Alcione Dias Nazareth.

Fonte: G1 Música

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