NÃO VENHA ROUBAR A MINHA SOLIDÃO
07/10/2024 - 06:30
Se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca. O título do Pense Nisso de hoje foi transcrito da frase proferida pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, conhecido como o filósofo da afirmação da vida. Nos tempos atuais, tempos de vidas líquidas, onde tudo é descartável, as pessoas se agarram cada vez mais na solidão. E tem na solidão como estilo de vida positivo. Dia desses, numa enquete feita por um programa radiofônico, fora feita a seguinte pergunta. Você acha que é possível ser feliz vivendo sozinho? Pelas respostas, percebemos que a solidão nos dias de hoje seja mais atraente do que imaginamos. Pessoas diziam que, com tanta gente fútil que nos cerca, solidão está mais para um remédio. Haviam aqueles que opinavam. Dizendo que a solidão é luxo nos dias atuais. Muitos afirmavam que preferem a solidão como um modo de se protegerem da infâmia do politicamente correto. Onde você corre o risco de ser processado por dizer oi? E arrematam, é melhor viver num casulo do que ter uma dor de cabeça explicando o inexplicável. O que fica claro diante dessas afirmações é que a solidão se tornou uma amiga protetora para nossa sociedade onde tudo é tão líquido que vê no relacionamento interpessoal como um problema que somente a solidão resolve. Em suma, estamos nos tornando misantropos, isto é, vivemos com desconfianças da sociedade da qual fazemos parte. Existe em nós o dilema do porco-espinho criado pelo filósofo Arthur Chopin Hauer, dos porcos espinhos. Quando sentimos frio, nos aproximamos, por necessidade das pessoas. Mas ao fazermos isso, espetamos e somos espetados pelos espinhos. E assim, vivemos essa tensão. Eu quero calor, eu quero proximidade com outras pessoas, mas essas pessoas têm ideias diferentes, gostos diferentes, opiniões dissonantes das minhas. Essas pessoas têm espinhos e, desta forma, nos afastamos para, logo mais, sentirmos a necessidade de nos aquecer de novo. Aqui fica a lição de que devemos viver em comunhão, mas sem ocupar o espaço sagrado de cada um. Sim, isso é a arte que poucos dominam. É por isso que, em nossos dias, as redes sociais fazem tanto sucesso. Ela te aproxima das pessoas, mas sem que fiquem tão próximas a ponto de te espetarem com seus espinhos. Então, com o smartphone nas mãos eu controlo as distâncias. Com o celular resolvemos o dilema do porco-espinho. Ele aproxima, mas sem o risco de ser espetado. E por outro lado, eu consigo um certo calor humano. Tépido, tênue, mas com algum calor. E ao mesmo tempo, mantenho a minha solidão controlada. Não venha roubar minha solidão se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca. Ofertamos então aquelas coisas, entre aspas, antiquadas. Como por exemplo, as visitas entre amigos com os intermináveis bate-papos que hoje se extinguiram. Graças a dispositivos tecnológicos que permitem contatos na nossa aldeia global sem sair da frente de um visor.
Cultivar amizades, distribuir afagos, buscar companheiro para entretenimento sadio, aplaudir um teatro, sair com colegas de trabalho para uma tarde de laser junto a natureza, são atos a que todos podemos nos propor, aprendamos a desfrutar da companhia um do outro, mesmo que de vez em quando, haja alguns espinhos, isso faz parte de uma relação menos líquida, no contato humano é que burlamos experiências e sentimentos, aprendemos a disciplina do próprio proceder, portanto, vamos viver uma vida, menos líquida e parar de solicitar que a solidão seja sólida. Pense nisso, mas pense agora.
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