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Antonio Adolfo experimenta outros tons de Jobim em álbum situado entre a reverência e a ousadia

Antonio Adolfo experimenta outros tons de Jobim em álbum situado entre a reverência e a ousadia

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Antonio Adolfo experimenta outros tons de Jobim em álbum situado entre a reverência e a ousadia

27/09/2021 - 08:11

Nascido em 10 de fevereiro de 1947, o pianista carioca Antonio Adolfo tinha 12 anos quando ouviu embevecido no rádio o samba A felicidade, composto em 1958 pelo conterrâneo Antonio Carlos Jobim (25 de janeiro de 1927 – 8 de dezembro de 1994), com letra do parceiro Vinicius de Moraes (1913 – 1980), para a trilha sonora do filme Orfeu negro (1959).

Foi amor à primeira audição, como rememora Adolfo em texto escrito para a contracapa interna da edição em CD do álbum Jobim forever.

Disco lançado nos Estados Unidos em 31 de julho, dois meses antes do CD posto no mercado fonográfico neste mês de setembro de 2021 pelo selo AAM Music, Jobim forever é afetivo acerto de contas com a memória deste pianista, arranjador e compositor que, profissionalizado músico em 1964, aos 17 anos, nunca perdeu de vista o amor pela bossa sempre nova do cancioneiro de Jobim, compositor de visibilidade planetária.

Tanta reverência ao soberano compositor jamais impede que Adolfo explore e experimente outros tons de Antonio ao longo das nove faixas de Jobim forever. A começar pela alteração do encadeamento de acordes do samba Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) na gravação que abre o disco, como ressalta Adolfo em faixa-a-faixa disponível no YouTube.

Pela natureza jazzística do som do pianista, Jobim forever é disco naturalmente instrumental. A única (bela) voz ouvida ao longo do álbum é a de Zé Renato, solista convidado a cantar os dois versos – “Tristeza não tem fim / Felicidade, sim” – que sintetizam o lamento contido no samba A felicidade, símbolo inicial do amor eterno de Adolfo pela bossa nova. Bossa criada a partir da batida foliã do samba, cuja batucada é evocada ao fim da faixa sem tirar o álbum da atmosfera suave em que estão ambientadas faixas como Inútil paisagem (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1963).

Jobim forever é disco de pianista que fala bem a língua do jazz – como exemplifica a melodia improvisada por Adolfo com o solo de piano feito no samba Água de beber (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961) – sem deixar de dialogar com os grandes músicos arregimentados para o álbum. Há solos expressivos de Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn) e Marcelo Martins (saxofones e flauta) ao longo dos quase 50 minutos de Jobim forever.

O solo de Jessé Sadoc é a cereja do bolo na gravação de Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), para citar somente um exemplo da generosidade de Adolfo em abrir espaço no álbum para a exposição do virtuosismo de músicos como o violonista Lula Galvão e o baixista Jorge Helder.

A propósito, Jobim forever é disco mais indicado para músicos e ouvintes aptos a decifrar os caminhos melódicos e harmônicos seguidos por Adolfo entre a reverência a Jobim e as ousadias estilísticas de pianista que se recusou a fazer música de elevador – como o artista ressalta no já mencionado faixa-a-faixa em que revela que o ponto de partida para o arranjo de Wave (Antonio Carlos Jobim, 1967) foi a orquestração feita pelo próprio Adolfo para a gravação dessa música por Elis Regina (1945 – 1982) em álbum gravado em 1969, na Suécia, com o gaitista belga Toots Thielemans (1922 – 2016).

Se Estrada do sol (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1958) é trilhada no passo de valsa jazzística, em gravação que evoca Chovendo na roseira (Antonio Carlos Jobim, 1973), o samba O morro não tem vez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963) – creditado como Favela pelo fato de o disco ser primordialmente direcionado ao mercado norte-americano – embute lamento de blues que poderia ter sido mais intensificado.

Só que Antonio Adolfo jamais pesa a mão em Jobim forever, nem mesmo quando aborda a dramaticidade melódica de Amparo (Antonio Carlos Jobim, 1969) em gravação introduzida pela canção Por toda a minha vida (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e desenvolvida com toque de guarânia.

No todo, entre tradições e inventividades, é como se o Antonio Adolfo tocasse Jobim com a tarimba de 58 anos de carreira, mas com o entusiasmo juvenil daquele adolescente de 1959 que, embevecido, se deixou entorpecer pelas ondas do rádio que lhe trouxeram A felicidade.

Fonte: Pop & Arte G1

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