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Caetano Veloso aponta no single 'Anjos tronchos' a arte como escape do malefício do Vale do Silício

Caetano Veloso aponta no single 'Anjos tronchos' a arte como escape do malefício do Vale do Silício

Caetano Veloso lança o single 'Anjos tronchos', primeira amostra do álbum 'Meu coco' — Foto: Divulgação

Caetano Veloso aponta no single 'Anjos tronchos' a arte como escape do malefício do Vale do Silício

17/09/2021 - 10:25

Em 2021, como em 1991, alguma coisa está fora da ordem mundial. Em mundo cibernético, parte da ruína se origina do Vale do Silício, reduto norte-americano de empresas universais de tecnologia que, com o uso de algoritmos, manipulam povos como gados em redes sociais.

É dessa desordem mundial que trata Anjos tronchos, primeiro retumbante single de Meu coco, álbum de músicas inéditas que Caetano Veloso lançará no último trimestre deste ano de 2021.

O poder do verbo do artista consegue sintetizar imagens que revitalizam reflexão sobre tema que, a rigor, já está na ordem do dia. Anjos tronchos versa sobre a desordem de mundo tecnológico em que “palhaços líderes brotam macabros, munidos de controles totais”.

Como em tantas outras composições do artista, caso de Fora da ordem (1991), lançada há 30 anos, a música foi posta em Anjos tronchos a serviço de letra que se impõe sobre os sons sombrios dos sintetizadores de Lucas Nunes – músico que assina a produção musical da faixa juntamente com Caetano Veloso, tendo mixado a gravação com Daniel Carvalho – e os toques econômicos, mas precisos, do baixo e da guitarra de Pedro Sá.


Pedro, cabe lembrar, é músico que integrava a BandaCê, trio indie carioca que deu o tom dos três últimos autorais álbuns de estúdio – Cê (2006), Zii e zie (2009) e Abraçaço (2012) – do cantor e compositor baiano.

Ao longo de quase quatro minutos, alguns poucos acordes se repetem, como mantras, na maioria das estrofes em que Caetano denuncia os horrores de mundo macabro que, a reboque da tecnologia, empodera os tais “palhaços líderes” e mata com “post vil”.

Anjos tronchos é canção que exprime desolamento, sufocada em nuvens tóxicas. “Que é que pode ser salvação? / Que nuvem, se nem espaço há? / Nem tempo, nem sim nem não. Sim: nem não”, reflete o artista desesperançado.

A desesperança remete à lembrança de “tempos em que havia tempos atrás” em verso que serve como deixa para Caetano rememorar luminoso ponto inicial da própria marcha artística com a apresentação, em festival de tempos analógicos, de Alegria alegria (Caetano Veloso, 1967), composição citada através do assertivo verso seguinte – “E eu vou, por que não? Eu vou, por que não? Eu vou” – em que Anjos tronchos se desloca por alguns segundos para a nação musical nordestina, evocada pela marcação da zabumba e do triângulo percutidos pelo carioquíssimo Pretinho da Serrinha.

Entre tanta desordem e desolação, a Arte se aninha na poética de Anjos tronchos, apontada como a salvação, o escape, o bote capaz de resgatar vidas do torpor das redes sociais.

“Mas há poemas como jamais / Ou como algum poeta sonhou”, pondera Caetano, após receitar Arnold Schönberg (1874 – 1951), Anton Webern (1883 – 1945), John Cage (1912 – 1992) – compositores vanguardistas que desafiaram a ordem mundial – e canções para os momentos em que não somos otários.

O verso final de Anjos tronchos – “Miss Eilish faz tudo do quarto com o irmão”, alusivo ao modus operandi do single que em 2016 catapultou a cantora e compositora norte-americana Billie Eilish ao estrelato – sopra a esperança de que, como um índio, a arte descerá de estrela colorida, mais avançada do que a mais avançada da tecnologias, para implodir os malefícios do Vale do Silício.

Eis a letra de Anjos tronchos, música inédita gravada por Caetano Veloso para o álbum Meu coco e lançada em single na noite de quinta-feira, 16 de setembro:

Anjos tronchos

(Caetano Veloso)

“Uns anjos tronchos do Vale do Silício

Desses que vivem no escuro em plena luz

Disseram: vai ser virtuoso no vício

Das telas dos azuis mais do que azuis

Agora a minha história é um denso algoritmo

Que vende venda a vendedores reais

Neurônios meus ganharam novo outro ritmo

E mais e mais e mais e mais e mais.

Primavera Árabe – e logo o horror

Querer que o mundo acabe-se: sombras do amor

Palhaços líderes brotaram macabros

No império e nos seus vastos quintais

Ao que revêm impérios já milenares

Munidos de controles totais.

Anjos já mi ou bi ou trilionários

Comandam só seus mi, bi, trilhões

E nós, quando não somos otários,

Ouvimos Schönberg, Webern, Cage, canções…

Ah, morena bela

Estás aqui

Sem pele, tela a tela

Estamos aí

Um post vil poderá matar

Que é que pode ser salvação?

Que nuvem, se nem espaço há?

Nem tempo, nem sim nem não. Sim: nem não

Mas há poemas como jamais

Ou como algum poeta sonhou

Nos tempos em que havia tempos atrás

E eu vou, por que não? Eu vou, por que não? Eu vou

Uns anjos tronchos do Vale do Silício

Tocaram fundo o minimíssimo grão

E enquanto nós nos perguntamos do início

Miss Eilish faz tudo do quarto com o irmão”

Fonte: Pop & Arte G1

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